El precioso logo de la cabecera lo hizo Chicho, mi hermano pequeño, desde los Estados Unidos, y me lo envió. En este sitio se pueden ver varios álbumes de creaciones suyas. A mí me encantan. Este es el sitio oficial The Art of Chicho Lorenzo: más dedicado a cuadros.

viernes, 25 de abril de 2008

Crudo relato de los tiempos actuales, por Pilar Chargoñia

Hoy tenemos invitados: les dejo con Pilar Chargoñia, una amiga y una excelente lectora, correctora y escritora.



Crudo relato de los tiempos actuales

Uno de los libros que cambió mi percepción de la literatura cuando ya creía que eso no era posible, que ya reconocía mi familia literaria y etcétera, fue Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca, cuentos, editado en portugués por Compañía de las Letras, 2.ª ed., 6.ª reimpr., San Pablo, 1989. Se publicó en 1975 y estuvo prohibido durante muchos años. Es lectura para mentes abiertas y literariamente exigentes. Simplificando las cosas: una mirada profunda sobre Brasil y sus choques de opuestos sociales. En el conjunto de cuentos de este libro, quince en total, destaca el que da nombre a la obra.

Al final de la trascripción en portugués de Brasil está la traducción que hicimos con mi marido. Nos costó un triunfo traducir la jerga callejera de los delincuentes a un regionalismo de nuestra variedad rioplatense, no exactamente al lunfardo bonaerense sino a los términos propios de nuestro medio uruguayo, que incluyen también los brasilerismos incorporados en el lenguaje coloquial.

Pilar Chargoñia

(Montevideo, Uruguay)

Feliz Ano Novo

Rubem Fonseca

Vi na televisão que as lojas bacanas estavam vendendo adoidado roupas ricas para as madames vestirem no reveillon. Vi também que as casas de artigos finos para comer e beber tinham vendido todo o estoque.

Pereba, vou ter que esperar o dia raiar e apanhar cachaça, galinha morta e farofa dos macumbeiros.

Pereba entrou no banheiro e disse, que fedor.

Vai mijar noutro lugar, tô sem água.

Pereba saiu e foi mijar na escada.

Onde você afanou a TV, Pereba perguntou.

Afanei, porra nenhuma. Comprei. O recibo está bem em cima dela. Ô Pereba! você pensa que eu sou algum babaquara para ter coisa estarrada no meu cafofo?

Tô morrendo de fome, disse Pereba.

De manhã a gente enche a barriga com os despachos dos babalaôs, eu disse, só de sacanagem.

Não conte comigo, disse Pereba. Lembra-se do Crispim? Deu um bico numa macumba aqui na Borges de Medeiros, a perna ficou preta, cortaram no Miguel Couto e tá ele aí, fudidão, andando de muleta.

Pereba sempre foi supersticioso. Eu não. Tenho ginásio, sei ler, escrever e fazer raiz quadrada. Chuto a macumba que quiser.

Acendemos uns baseados e ficamos vendo a novela. Merda. Mudamos de canal, prum bang-bang, Outra bosta.

As madames granfas tão todas de roupa nova, vão entrar o ano novo dançando com os braços pro alto, já viu como as branquelas dançam? Levantam os braços pro alto, acho que é pra mostrar o sovaco, elas querem mesmo é mostrar a boceta mas não têm culhão e mostram o sovaco. Todas corneiam os maridos. Você sabia que a vida delas é dar a xoxota por aí?

Pena que não tão dando pra gente, disse Pereba. Ele falava devagar, gozador, cansado, doente.

Pereba, você não tem dentes, é vesgo, preto e pobre, você acha que as madames vão dar pra você? Ô Pereba, o máximo que você pode fazer é tocar uma punheta. Fecha os olhos e manda brasa.

Eu queria ser rico, sair da merda em que estava metido! Tanta gente rica e eu fudido.

Zequinha entrou na sala, viu Pereba tocando punheta e disse, que é isso Pereba?

Michou, michou, assim não é possível, disse Pereba.

Por que você não foi para o banheiro descascar sua bronha?, disse Zequinha.

No banheiro tá um fedor danado, disse Pereba. Tô sem água.

As mulheres aqui do conjunto não estão mais dando?, perguntou Zequinha.

Ele tava homenageando uma loura bacana, de vestido de baile e cheia de jóias.

Ela tava nua, disse Pereba.

Já vi que vocês tão na merda, disse Zequinha.

Ele tá querendo comer restos de Iemanjá, disse Pereba.

Brincadeira, eu disse. Afinal, eu e Zequinha tínhamos assaltado um supermercado no Leblon, não tinha dado muita grana, mas passamos um tempão em São Paulo na boca do lixo, bebendo e comendo as mulheres. A gente se respeitava.

Pra falar a verdade a maré também não tá boa pro meu lado, disse Zequinha. A barra tá pesada. Os homens não tão brincando, viu o que fizeram com o Bom Crioulo? Dezesseis tiros no quengo. Pegaram o Vevé e estrangularam. O Minhoca, porra! O Minhoca! crescemos juntos em Caxias, o cara era tão míope que não enxergava daqui até ali, e também era meio gago - pegaram ele e jogaram dentro do Guandu, todo arrebentado.

Pior foi com o Tripé. Tacaram fogo nele. Virou torresmo. Os homens não tão dando sopa, disse Pereba. E frango de macumba eu não como.

Depois de amanhã vocês vão ver. Vão ver o que?, perguntou Zequinha.

Só tô esperando o Lambreta chegar de São Paulo.

Porra, tu tá transando com o Lambreta?, disse Zequinha.

As ferramentas dele tão todas aqui.

Aqui!?, disse Zequinha. Você tá louco.

Eu ri.

Quais são os ferros que você tem?, perguntou Zequinha. Uma Thompson lata de goiabada, uma carabina doze, de cano serrado, e duas magnum.

Puta que pariu, disse Zequinha. E vocês montados nessa baba tão aqui tocando punheta?

Esperando o dia raiar para comer farofa de macumba, disse Pereba. Ele faria sucesso falando daquele jeito na TV, ia matar as pessoas de rir.

Fumamos. Esvaziamos uma pitu.

Posso ver o material?, disse Zequinha.

Descemos pelas escadas, o elevador não funcionava e fomos no apartamento de Dona Candinha. Batemos. A velha abriu a porta.

Dona Candinha, boa noite, vim apanhar aquele pacote.

O Lambreta já chegou?, disse a preta velha.

Já, eu disse, está lá em cima.

A velha trouxe o pacote, caminhando com esforço. O peso era demais para ela. Cuidado, meus filhos, ela disse.

Subimos pelas escadas e voltamos para o meu apartamento. Abri o pacote. Armei primeiro a lata de goiabada e dei pro Zequinha segurar. Me amarro nessa máquina, tarratátátátá!, disse Zequinha.

É antiga mas não falha, eu disse.

Zequinha pegou a magnum. Jóia, jóia, ele disse. Depois segurou a doze, colocou a culatra no ombro e disse: ainda dou um tiro com esta belezinha nos peitos de um tira, bem de perto, sabe como é, pra jogar o puto de costas na parede e deixar ele pregado lá.

Botamos tudo em cima da mesa e ficamos olhando. Fumamos mais um pouco.

Quando é que vocês vão usar o material?, disse Zequinha.

Dia 2. Vamos estourar um banco na Penha. O Lambreta quer fazer o primeiro gol do ano.

Ele é um cara vaidoso, disse Zequinha.

É vaidoso mas merece. Já trabalhou em São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Vitória, Niterói, pra não falar aqui no Rio. Mais de trinta bancos.

É, mas dizem que ele dá o bozó, disse Zequinha.

Não sei se dá, nem tenho peito de perguntar. Pra cima de mim nunca veio com frescuras.

Você já viu ele com mulher?, disse Zequinha.

Não, nunca vi. Sei lá, pode ser verdade, mas que importa?

Homem não deve dar o cu. Ainda mais um cara importante como o Lambreta, disse Zequinha.

Cara importante faz o que quer, eu disse.

É verdade, disse Zequinha.

Ficamos calados, fumando.

Os ferros na mão e a gente nada, disse Zequinha.

O material é do Lambreta. E aonde é que a gente ia usar ele numa hora destas?

Zequinha chupou ar fingindo que tinha coisas entre os dentes. Acho que ele também estava com fome.

Eu tava pensando a gente invadir uma casa bacana que tá dando festa. O mulherio tá cheio de jóia e eu tenho um cara que compra tudo que eu levar. E os barbados tão cheios de grana na carteira. Você sabe que tem anel que vale cinco milhas e colar de quinze, nesse intruja que eu conheço? Ele paga na hora.

O fumo acabou. A cachaça também. Começou a chover. Lá se foi a tua farofa, disse Pereba.

Que casa? Você tem alguma em vista?

Não, mas tá cheio de casa de rico por aí. A gente puxa um carro e sai procurando.

Coloquei a lata de goiabada numa saca ele feira, junto com a munição. Dei uma magnum pro Pereba, outra pro Zequinha. Prendi a carabina no cinto, o cano para baixo e vesti uma capa. Apanhei três meias de mulher e uma tesoura. Vamos, eu disse.

Puxamos um Opala. Seguimos para os lados de São Conrado. Passamos várias casas que não davam pé, ou tavam muito perto da rua ou tinham gente demais. Até que achamos o lugar perfeito. Tinha na frente um jardim grande e a casa ficava lá no fundo, isolada. A gente ouvia barulho de música de carnaval, mas poucas vozes cantando. Botamos as meias na cara. Cortei com a tesoura os buracos dos olhos. Entramos pela porta principal.

Eles estavam bebendo e dançando num salão quando viram a gente.

É um assalto, gritei bem alto, para abafar o som da vitrola. Se vocês ficarem quietos ninguém se machuca. Você aí, apaga essa porra dessa vitrola!

Pereba e Zequinha foram procurar os empregados e vieram com três garções e duas cozinheiras. Deita todo mundo, eu disse.

Contei. Eram vinte e cinco pessoas. Todos deitados em silêncio, quietos, como se não estivessem sendo vistos nem vendo nada.

Tem mais alguém em casa?, eu perguntei.

Minha mãe. Ela está lá em cima no quarto. É uma senhora doente, disse uma mulher toda enfeitada, de vestido longo vermelho. Devia ser a dona da casa.

Crianças?

Estão em Cabo Frio, com os tios.

Gonçalves, vai lá em cima com a gordinha e traz a mãe dela.

Gonçalves?, disse Pereba.

É você mesmo. Tu não sabe mais o teu nome, ô burro? Pereba pegou a mulher e subiu as escadas.

Inocêncio, amarra os barbados.

Zequinha amarrou os caras usando cintos, fios de cortinas, fios de telefones, tudo que encontrou.

Revistamos os sujeitos. Muito pouca grana. Os putos estavam cheios de cartões de crédito e talões de cheques. Os relógios eram bons, de ouro e platina. Arrancamos as jóias das mulheres. Um bocado de ouro e brilhante. Botamos tudo na saca.

Pereba desceu as escadas sozinho.

Cadê as mulheres?, eu disse.

Engrossaram e eu tive que botar respeito.

Subi. A gordinha estava na cama, as roupas rasgadas, a língua de fora. Mortinha. Pra que ficou de flozô e não deu logo? O Pereba tava atrasado. Além de fudida, mal paga. Limpei as jóias. A velha tava no corredor, caída no chão. Também tinha batido as botas. Toda penteada, aquele cabelão armado, pintado de louro, de roupa nova, rosto encarquilhado, esperando o ano novo, mas já tava mais pra lá do que pra cá. Acho que morreu de susto. Arranquei os colares, broches e anéis. Tinha um anel que não saía. Com nojo, molhei de saliva o dedo da velha, mas mesmo assim o anel não saía. Fiquei puto e dei uma dentada, arrancando o dedo dela. Enfiei tudo dentro de uma fronha. O quarto da gordinha tinha as paredes forradas de couro. A banheira era um buraco quadrado grande de mármore branco, enfiado no chão. A parede toda de espelhos. Tudo perfumado. Voltei para o quarto, empurrei a gordinha para o chão, arrumei a colcha de cetim da cama com cuidado, ela ficou lisinha, brilhando. Tirei as calças e caguei em cima da colcha. Foi um alívio, muito legal. Depois limpei o cu na colcha, botei as calças e desci.

Vamos comer, eu disse, botando a fronha dentro da saca. Os homens e mulheres no chão estavam todos quietos e encagaçados, como carneirinhos. Para assustar ainda mais eu disse, o puto que se mexer eu estouro os miolos.

Então, de repente, um deles disse, calmamente, não se irritem, levem o que quiserem não faremos nada.

Fiquei olhando para ele. Usava um lenço de seda colorida em volta do pescoço.

Podem também comer e beber à vontade, ele disse.

Filha da puta. As bebidas, as comidas, as jóias, o dinheiro, tudo aquilo para eles era migalha. Tinham muito mais no banco. Para eles, nós não passávamos de três moscas no açucareiro.

Como é seu nome?

Maurício, ele disse.

Seu Maurício, o senhor quer se levantar, por favor?

Ele se levantou. Desamarrei os braços dele.

Muito obrigado, ele disse. Vê-se que o senhor é um homem educado, instruído. Os senhores podem ir embora, que não daremos queixa à polícia. Ele disse isso olhando para os outros, que estavam quietos apavorados no chão, e fazendo um gesto com as mãos abertas, como quem diz, calma minha gente, já levei este bunda suja no papo.

Inocêncio, você já acabou de comer? Me traz uma perna de peru dessas aí. Em cima de uma mesa tinha comida que dava para alimentar o presídio inteiro. Comi a perna de peru. Apanhei a carabina doze e carreguei os dois canos.

Seu Maurício, quer fazer o favor de chegar perto da parede? Ele se encostou na parede. Encostado não, não, uns dois metros de distância. Mais um pouquinho para cá. Aí. Muito obrigado.

Atirei bem no meio do peito dele, esvaziando os dois canos, aquele tremendo trovão. O impacto jogou o cara com força contra a parede. Ele foi escorregando lentamente e ficou sentado no chão. No peito dele tinha um buraco que dava para colocar um panetone.

Viu, não grudou o cara na parede, porra nenhuma.

Tem que ser na madeira, numa porta. Parede não dá, Zequinha disse.

Os caras deitados no chão estavam de olhos fechados, nem se mexiam. Não se ouvia nada, a não ser os arrotos do Pereba.

Você aí, levante-se, disse Zequinha. O sacana tinha escolhido um cara magrinho, de cabelos compridos.

Por favor, o sujeito disse, bem baixinho. Fica de costas para a parede, disse Zequinha.

Carreguei os dois canos da doze. Atira você, o coice dela machucou o meu ombro. Apóia bem a culatra senão ela te quebra a clavícula.

Vê como esse vai grudar. Zequinha atirou. O cara voou, os pés saíram do chão, foi bonito, como se ele tivesse dado um salto para trás. Bateu com estrondo na porta e ficou ali grudado. Foi pouco tempo, mas o corpo do cara ficou preso pelo chumbo grosso na madeira.

Eu não disse? Zequinha esfregou ó ombro dolorido. Esse canhão é foda.

Não vais comer uma bacana destas?, perguntou Pereba.

Não estou a fim. Tenho nojo dessas mulheres. Tô cagando pra elas. Só como mulher que eu gosto.

E você... Inocêncio?

Acho que vou papar aquela moreninha.

A garota tentou atrapalhar, mas Zequinha deu uns murros nos cornos dela, ela sossegou e ficou quieta, de olhos abertos, olhando para o teto, enquanto era executada no sofá.

Vamos embora, eu disse. Enchemos toalhas e fronhas com comidas e objetos.

Muito obrigado pela cooperação de todos, eu disse. Ninguém respondeu.

Saímos. Entramos no Opala e voltamos para casa.

Disse para o Pereba, larga o rodante numa rua deserta de Botafogo, pega um táxi e volta. Eu e Zequinha saltamos.

Este edifício está mesmo fudido, disse Zequinha, enquanto subíamos, com o material, pelas escadas imundas e arrebentadas.

Fudido mas é Zona Sul, perto da praia. Tás querendo que eu vá morar em Nilópolis?

Chegamos lá em cima cansados. Botei as ferramentas no pacote, as jóias e o dinheiro na saca e levei para o apartamento da preta velha.

Dona Candinha, eu disse, mostrando a saca, é coisa quente.

Pode deixar, meus filhos. Os homens aqui não vêm.

Subimos. Coloquei as garrafas e as comidas em cima de uma toalha no chão. Zequinha quis beber e eu não deixei. Vamos esperar o Pereba.

Quando o Pereba chegou, eu enchi os copos e disse, que o próximo ano seja melhor. Feliz Ano Novo.

*

Feliz Año Nuevo

Rubem Fonseca

Vi en la televisión que las tiendas pitucas estaban vendiendo a lo loco ropas caras para que las señoronas se vistieran en las fiestas. Vi también que las casas de artículos finos para comer y beber habían vendido todo el stock.

Pereba, voy a tener que esperar que amanezca y manotear caña, gallina muerta y farofa de los macumberos.

Pereba entró al baño y dijo, qué baranda.

Andá a mear a otro lugar, estoy sin agua.

Pereba salió y fue a mear en la escalera.

¿Dónde afanaste la tele?, preguntó Pereba.

No afané un carajo. Compré. El recibo está encima de ella. ¡Eh, Pereba!, ¿te pensás que soy un otario para tener cosas afanadas en mi bulín?

Me estoy muriendo de hambre, dijo Pereba.

De mañana llenamos la barriga con los despachos de los macumberos, dije sólo por joder.

No contés conmigo, dijo Pereba. ¿Te acordás del Crispín? Dio una patada en una macumba aquí en la Borges de Medeiros, la pierna quedó negra, la cortaron en el Miguel Couto y él está ahí, jodidazo, andando con muleta.

Pereba siempre fue supersticioso. Yo no. Tengo liceo, sé leer, escribir y hacer raíz cuadrada. Pateo la macumba que quiero.

Prendimos unos porros y nos pusimos a mirar la telenovela. Mierda. Cambiamos de canal, para una bang bang. Otra bosta.

Las señoronas pitucas están todas con ropa nueva, van a empezar el año nuevo bailando con los brazos en alto, ¿viste como bailan las blanquitas? Levantan los brazos para mostrar el sobaco, ellas lo que quieren es mostrar la concha, pero no, tienen vergüenza y muestran el sobaco. Todas cornean a los maridos. ¿Sabés que sus vidas son dar la concha por ahí?

Lástima que no nos dan a nosotros, dijo Pereba. Él hablaba despacio, burlón, cansado, enfermo.

Pereba, no tenés dientes, sos bizco, negro y pobre, ¿te parece que las señoronas se van a dejar? Eh, Pereba, como mucho, lo que podés hacer es pajearte. Cerrá los ojos y metele.

¡Yo quería ser rico, salir de la mierda en que estaba metido! Tantos ricos y yo jodido.

Zequinha entró en la sala, vio a Pereba pajeándose y dijo, ¿qué hacés, Pereba?

Se pudrió, se pudrió, así no se puede, dijo Pereba.

¿Por qué no fuiste al baño a sacarte la porquería?, dijo Zequinha.

En el baño hay una baranda maldita, dijo Pereba.

Estoy sin agua.

Las mujeres del edificio, ¿no se están dejando más?, preguntó Zequinha.

Él estaba soñando con una rubia pituca, con vestido de baile y llena de joyas.

Estaba desnuda, dijo Pereba.

Veo que están en la mierda, dijo Zequinha.

Él está queriendo comer restos de Iemanjá, dijo Pereba.

En joda, dije. Al final, yo y Zequinha habíamos asaltado un supermercado en Leblon, no había dado mucha pasta, pero pasamos un tiempazo en São Paulo en el medio de la basura, bebiendo y comiendo mujeres. Éramos respetables.

Para cantar la justa, tampoco me va bien, dijo Zequinha. El ambiente está pesado. Los hombres no están para juegos, ¿vieron lo que hicieron con el Bom Crioulo? Dieciséis tiros en la panza. Agarraron a Vevé y lo estrangularon. ¡El Minhoca, carajo! ¡El Minhoca!, crecimos juntos en Caxias, el tipo era tan miope que no veía de aquí hasta allí, y también era medio tarta, lo agarraron y lo tiraron dentro del Guandu, todo reventado.

Peor fue con el Tripé. Le prendieron fuego. Se volvió tostada. Los hombres no aflojan, dijo Pereba. Y pollo de macumba yo no como.

Pasado mañana van a ver.

¿Van a ver el qué?, preguntó Zequinha.

Sólo estoy esperando que el Lambreta llegue de São Paulo.

Carajo, ¿te das con el Lambreta?, dijo Zequinha.

Sus herramientas están todas aquí.

¿Aquí?, dijo Zequinha. Estás loco.

Me reí.

¿Qué fierros tenés?, preguntó Zequinha.

Una Thompson lata de guayabada, una carabina doce, de caño recortado, y dos Magnum.

Tá que lo parió, dijo Zequinha. ¿Y ustedes teniendo esa papa están aquí pajeándose?

Esperando que amanezca para comer farofa de macumba, dijo Pereba. Él tendría éxito hablando de ese modo en la tele, mataría de risa a la gente.

Fumamos. Vaciamos una cajilla.

¿Puedo ver el material?, dijo Zequinha.

Bajamos por la escalera, el ascensor no funcionaba, y fuimos al apartamento de doña Candinha. Golpeamos. La vieja abrió la puerta.

Doña Candinha, buenas noches, vine a recoger aquel paquete.

¿El Lambreta ya llegó?, dijo la negra vieja.

Ya, dije, está arriba.

La vieja trajo el paquete, caminando con esfuerzo. El peso era demasiado para ella. Cuidado, hijos míos, dijo.

Subimos por la escalera y volvimos a mi apartamento. Abrí el paquete. Armé primero la lata de guayabada y se la di para sostener a Zequinha. Me ato en esta máquina, tarratátátátá, dijo Zequinha.

Es viejo pero no falla, dije.

Zequinha agarró la Magnum. Chiche, chiche, dijo. Después sostuvo la doce, colocó la culata en el hombro y dijo: capaz que doy un tiro con esta preciosura en el pecho de un tira, bien cerca, sabés cómo, para tirar al puto de espaldas en la pared y dejarlo pegado allí.

Pusimos todo encima de la mesa y nos quedamos mirando.

Fumamos un poco más.

¿Cuándo es que van a usar el material?, dijo Zequinha.

El 2 vamos a reventar un banco en la Penha. El Lambreta quiere hacer el primer gol del año.

Es un tipo vanidoso, dijo Zequinha.

Es vanidoso pero merece. Ya trabajó en São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Vitória, Niterói, para no hablar de Rio. Más de treinta bancos.

Es, pero dicen que da el orto, dijo Zequinha.

No sé si lo da, ni me da el cuero para preguntar. A mí nunca me vino con mariconadas.

¿Lo viste con mujeres?, dijo Zequinha.

No, nunca lo vi. Yo qué sé, puede ser verdad, pero ¿qué importa?

Un hombre no debe entregar el culo. Encima un tipo importante como el Lambreta, dijo Zequinha.

Un tipo importante hace lo que quiere, dije.

Es verdad, dijo Zequinha.

Nos quedamos callados, fumando.

Los fierros en la mano y nosotros nada, dijo Zequinha.

El material es del Lambreta. ¿Y dónde lo íbamos a usar en un momento así?

Zequinha chupó aire, fingiendo que tenía algo entre los dientes. Creo que él también estaba con hambre.

Estaba pensando en copar una casa pituca que esté de fiesta. El mujererío está lleno de joyas y tengo un tipo que compra todo lo que le llevo. Y los barbudos están con las billeteras llenas de pasta. ¿Sabés que hay anillos que valen cinco grandes y collares de quince en ese quemero que conozco? Paga en el acto.

El tabaco se acabó. La caña también. Empezó a llover.

Allá se fue tu farofa, dijo Pereba.

¿Qué casa? ¿Tenés alguna en vista?

No, pero está lleno de casas de ricos por ahí. Afanamos un auto y salimos buscando.

Coloqué la lata de guayabada en una bolsa de compras, junto con la munición. Di una Magnum al Pereba, otra para Zequinha. Enfundé la carabina en el cinto, con el caño para abajo, y me puse una gabardina. Agarré tres medias de mujer y una tijera. Vamos, dije.

Afanamos un Opala. Tomamos hacia São Conrado. Pasamos varias casas que no servían, o estaban muy cerca de la calle o tenían demasiada gente. Hasta que encontramos el lugar perfecto. En la entrada tenía un jardín grande y la casa quedaba en el fondo, aislada. Escuchábamos barullo de música de carnaval, pero pocas voces cantando. Nos pusimos las medias en la cara. Corté con la tijera los buracos de los ojos. Entramos por la puerta principal.

Estaban bebiendo y bailando en un salón cuando nos vieron.

Es un asalto, grité bien fuerte para ahogar el sonido del tocadiscos. Si se quedan quietos nadie sale lastimado. ¡Vos, apagá ese tocadiscos del carajo!

Pereba y Zequinha fueron a buscar a los empleados y vinieron con tres mozos y dos cocineras. Todos acostados, dije.

Conté. Eran veinticinco personas. Todos acostados en silencio, quietos, como si no los vieran ni vieran nada.

¿Hay alguien más en la casa?, pregunté.

Mi madre. Está arriba en el cuarto. Es una señora enferma, dijo una mujer emperifollada, de vestido largo rojo. Debía ser la dueña de casa.

¿Niños?

Están en Cabo Frio, con los tíos.

Gonçalves, andá arriba con la gordita y traé a su madre.

¿Gonçalves?, dijo Pereba.

Sos vos. ¿No sabés ya tu nombre, burro?

Pereba agarró a la mujer y subió la escalera.

Inocêncio, atá a los barbudos.

Zequinha ató a los tipos usando cintos, cordones de cortinas, cables de teléfono, todo lo que encontró.

Revisamos a los sujetos. Muy poca pasta. Los putos estaban llenos de tarjetas de crédito y chequeras. Los relojes eran buenos, de oro y platino. Arrancamos las joyas de las mujeres. Un montón de oro y brillantes. Pusimos todo en la bolsa.

Pereba bajó la escalera, solo.

¿Dónde están las mujeres?, dije.

Se retobaron y tuve que hacerme respetar.

Subí. La gordita estaba en la cama, las ropas desgarradas, la lengua fuera. Muertita. ¿Por qué se hizo la difícil y no se dejó de una vez? El Pereba estaba necesitado. Además de cogida, mal pagada. Limpié las joyas. La vieja estaba en el corredor, caída en el suelo. También había estirado la pata. Toda peinada, aquel pelo armado, teñido de rubio, con ropa nueva, cara arrugada, esperando el año nuevo, pero ya estaba más para allá que para acá. Creo que murió del susto. Le arranqué los collares, broches y anillos. Tenía un anillo que no salía. Con asco, mojé de saliva el dedo de la vieja, pero ni aun así el anillo salía. Quedé furioso y di una dentellada, arrancando su dedo. Metí todo dentro de una funda. El cuarto de la gordita tenía las paredes forradas de cuero. La bañera era un buraco cuadrado grande de mármol blanco, empotrado en el suelo. La pared toda de espejos. Todo perfumado. Volví al cuarto, empujé a la gordita al suelo, arreglé la colcha de satén de la cama con cuidado, quedó estirada, brillando. Me saqué el pantalón y cagué sobre la colcha. Fue un alivio, buenazo. Después me limpié el culo en la colcha, me puse el pantalón y bajé.

Vamos a comer, dije, poniendo la funda dentro de la bolsa. Los hombres y mujeres en el suelo estaban todos quietos y cagados, como ovejitas. Para asustarlos más dije, al puto que se mueva le vuelo los sesos.

Entonces, de pronto, uno dijo, calmadamente, no se irriten, lleven lo que quieran, no haremos nada.

Me quedé mirándolo. Usaba un pañuelo de seda de colores alrededor del pescuezo.

También pueden comer y beber a gusto, dijo.

Hija de puta. Las bebidas, las comidas, las joyas, el dinero, todo aquello para ellos eran migajas. Tenían mucho más en el banco. Para ellos, nosotros no éramos más que tres moscas en el azucarero.

¿Tu nombre?

Maurício, dijo.

Don Maurício, ¿quiere levantarse, por favor?

Se levantó. Le desaté los brazos.

Muchas gracias, dijo. Se nota que usted es un hombre educado, instruido. Pueden irse, que no daremos parte a la policía. Dijo eso mirando a los otros, que estaban quietos asustados en el suelo, y haciendo un gesto con las manos abiertas, como quien dice, calma amigos, ya convencí a este culo sucio con mi charla.

Inocêncio, ¿ya terminaste de comer? Traeme una pata de pavo de ésas. Sobre una mesa había comida como para alimentar a toda la prisión. Comí la pata de pavo. Agarré la carabina doce y cargué los dos caños.

Don Maurício, ¿quiere hacer el favor de arrimarse a la pared?

Se recostó a la pared.

Recostado no, no, a unos dos metros de distancia. Un poquito más para acá. Ahí. Muchas gracias.

Tiré justo al medio de su pecho, vaciando los dos caños, tremendo trueno. El impacto tiró al tipo con fuerza contra la pared. Fue resbalando lentamente y quedó sentado en el suelo. En su pecho tenía un buraco que daba para meter un pan dulce.

Viste, el tipo no se pegó un carajo en la pared.

Tiene que ser en la madera, en una puerta. La pared no sirve, dijo Zequinha.

Los tipos acostados en el suelo estaban con los ojos cerrados, ni se movían. No se escuchaba nada, a no ser los eructos de Pereba.

Vos, levantate, dijo Zequinha. El canalla había elegido a un tipo flaco, de cabello largo.

Por favor, dijo el sujeto, muy bajito.

Ponete de espaldas a la pared, dijo Zequinha.

Cargué los dos caños de la doce. Tirá vos, la patada me machucó el hombro. Apoyá bien la culata, si no te quiebra la clavícula.

Mirá como éste se va a pegar. Zequinha tiró. El tipo voló, los pies salieron del suelo, fue lindo, como si hubiera dado un salto para atrás. Golpeó con estruendo en la puerta y quedó pegado. Fue poco tiempo, pero el cuerpo del tipo quedó apresado por el chumbo grueso en la madera.

¿No te dije?, Zequinha se refregó el hombro dolorido. Este cañón es joda.

¿No te vas a coger una pituca de éstas?, preguntó Pereba.

No tengo ganas. Tengo asco de estas mujeres. Me cago en ellas. Sólo cojo las mujeres que me gustan.

¿Y vos, Inocêncio?

Creo que voy a tirarme aquella morenita.

La muchacha intentó estorbar, pero Zequinha le metió unos piñazos en los cuernos, se tranquilizó y quedó quieta, con los ojos abiertos, mirando para el techo, mientras era ejecutada en el sofá.

Vámonos, dije. Llenamos manteles y fundas con comidas y objetos.

Muchas gracias por su cooperación, dije. Nadie respondió.

Salimos. Entramos en el Opala y volvimos para casa.

Dije al Pereba, largá el rodado en una calle desierta de Botafogo, tomá un taxi y volvé. Yo y Zequinha bajamos.

Este edificio está bien jodido, dijo Zequinha, mientras subíamos, con el material, por la escalera inmunda y destrozada.

Jodido pero es Zona Sul, cerca de la playa. ¿Querés que vaya a vivir a Nilópolis?

Llegamos arriba cansados. Puse las herramientas en el paquete, las joyas y el dinero en la bolsa y llevé todo para el apartamento de la negra vieja.

Doña Candinha, dije, mostrando la bolsa, esto quema.

Pueden dejarla, hijos míos. Los hombres aquí no vienen.

Subimos. Coloqué las botellas y las comidas sobre un mantel en el piso. Zequinha quiso beber y no lo dejé. Vamos a esperar al Pereba.

Cuando el Pereba llegó, llené los vasos y dije, que el próximo año sea mejor. Feliz Año Nuevo.

*

Crudo relato de los tiempos actuales, por Pilar ChargoñiaSocialTwist Tell-a-Friend

martes, 1 de abril de 2008

El placer de leer de niño, y luego, y luego...


Mañana, día 2 de abril, es el Día Internacional del Libro Infantil; en tal fecha porque se conmemora el nacimiento de un tal Hans Christian Andersen, patito feo según algunos, maravilloso cisne según otros, pero conocido por niños y mayores, tanto que a veces sus cuentos se consideran de nadie y a él se le atribuyen otros o ninguno en concreto.


Y es que a menudo las historias o las poesías o los personajes cobran vida propia y se escapan de sus dueños primeros, se van de la mano de los pequeños lectores, en sus sueños, y allí crecen, cambian, los ven crecer y cambiar a su vez.


Jacques Prévert tiene una preciosa canción para los niños que creo que se titula «L' Hiver (El invierno)». Cuando yo era pequeña, nosotros no cantábamos a Prévert, ni «L' Hiver», sino «Le bonhomme de neige (el muñeco de nieve)», que nos hacía reír y llorar a la vez, tan absurda era la historia de la canción:



Dans la nuit de l’hiver galope un grand homme blanc,

c’est un bonhomme de neige avec une pipe en bois,

un grand bonhomme de neige poursuivi par le froid,

un grand bonhomme de neige poursuivi par le froid.

Il arrive au village, il arrive au village.

Voyant de la lumière, le voilà rassuré.

Dans une petite maison, il entre sans frapper,

dans une petite maison, il entre sans frapper;

et pour se réchauffer, et pour se réchauffer,

s’assoit sur le poêle rouge et d’un coup... disparaît!,

ne laissant à sa place, au milieu d’une flaque d’eau,

ne laissant à sa place que sa pipe et son vieux chapeau...



(He aquí una versión de cómo percibíamos la historia, entre el miedo del principio amenazante, la risa que luego nos causaba un muñeco de nieve con frío, la pena del destino absurdo de la contradicción de ser lo que no se puede, materializada en una pipa y un viejo sombrero:

«En una noche de invierno un gran hombre blanco corre como alma que lleva el diablo: es... un muñeco de nieve con una pipa de madera, un gran muñeco de nieve perseguido por el frío.

Llega al pueblo y, viendo que hay luz, se calma. Entra sin llamar en una casita y, para calentarse, se sienta sobre la estufa ardiente: ¡puf, se esfumó! En un charco de agua, no queda de él más que su pipa y su viejo sombrero.»)


Año tras año llegaba el invierno; año tras año cantábamos, entre otras, la historia entre graciosa y triste del pobre muñeco, pero dejamos de cantarla mucho antes de saber que Prévert era el autor de tal canción. Y, en realidad, era nuestra, como tantas otras, como El patito feo con su genial venganza para un niño, o Los zapatos rojos y el miedo terrible y la curiosidad, mucho antes de que Andersen fuera su artífice.


Hace poco leímos a mis sobrinos e hijas —cuyas edades van de los cuatro a los catorce años— Ojobrusco de Darabuc, aprovechando que nos reuníamos todos, hasta los que viven en los EE. UU. Unos abrían la boca atentísimos; otros, antes de que terminásemos de narrar, ya estaban pidiendo ver el dibujo ( pero si se lo enseñábamos antes, durante y después) y comentaban la jugada... pero todos disfrutamos.


Bueno, pues atención con este y otros libros: son altamente peligrosos. Sí, de verdad. Los niños los hacen suyos, de golpe y porrazo, en cuanto ustedes se descuiden; hasta al autor se lo roban. Ratón y Ojobrusco pasan a entrar a su universo, donde ya estarán tantos más.


Cuando los niños llegan a adolescentes les pueden plantar actitudes como la de que quieren irse a vivir aventuras de mayores, en serio. No, no es que no vayan a estudiar, a negarse a hacer una carrera o lo que ustedes esperaban que hiciesen, no; es que después se van a largar, mochila al hombro, como Ratón, hartos del «día tras día [...]», y, no les pregunten, no, por más razones: «¡Aquello no [es] vida!».


Mi hija Marta se leyó el libro antes que nadie y me lo dio. «¿Qué tal?», le dije. Me respondió: «Me encanta». Pues es la mayor prueba de que libros como ese, incluso nanas que parecen inocuas, son peligrosísimos y sí trascienden a la vida real y cambian a la gente, o influyen mucho en ella.


Avisados quedan. Yo ya no puedo enmendar, a estas alturas, nada. Miren a ver qué hacen ustedes. Mañana es un día en que pueden optar por no llevar a sus hijos a las bibliotecas y no comprarles ningún libro; y, de paso, esconder los que haya por casa. Porque los encuentran, los leen, imaginan, viven de ellos, aprenden a soñar, y, cualquier día, además, maduran, les da por escribir, por leer libros que no conocemos, libros que conocemos y que no imaginábamos que leerían, o por volver a los libros infantiles —este es un síntoma grave de madurez extrema— y, mucho cuidado, por emprender el vuelo.





El placer de leer de niño, y luego, y luego...SocialTwist Tell-a-Friend
 
Creative Commons License
Esta obra está bajo una licencia de Creative Commons.

Free counter and web stats